Profano o espaço. que será. seja. um caminho. vereda de memórias.

domingo, 9 de março de 2008

VINHAS

aquecias as tuas mãos na minha samarra

havia por ali um animal indecente

havia por ali um animal inocente

eu sentia o teu cheiro a léguas

andavas muito nas esperas

não te avistava no jardim ao fundo

o mundo era surdo para mim

passava gente eu via e era cego

as pessoas diziam coisas que eu não entendia

como a mulher da sapataria que exclamava :

_nem o meu foi um amor assim

ia para dentro desinteressada da cliente

eu sabia a mulher passava revista aos sapatos em frente ao espelho

rolando a perna alta e levando os mais baratos

quando passávamos já a cliente se afastava

e ela connosco queria falar do que tinha esquecido

abanando a cabeça dizia: eu nunca vi cliente assim

fez oito mudas de sapatos comeu –me o tempo

o tempo passava nunca parando ela sempre falando

atrás de mim como uma só noite afinal

beijando-me a ira no pescoço com o gume de um punhal


JRM

14 comentários:

Cristina Gomes da Silva disse...

Já te disse, quando escreves assim, não sei comentar-te, só ler-te e compreender-te, ou seja, levar-te comigo.
Bj

deep disse...

Como a visitante anterior, não sei a que palavras deitar mão... Sei dizer que gostei; posso adiantar que me soou a um amor intenso entre o sonho e a dor...

Não são só as imagens que irradiam luz, pode acontecer o mesmo com as palavras... :)

eddy disse...

leio de forma compassada e tudo se esvaece com forma...

Um "saludo"

Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) disse...

Intento sentir la ira en mi nuca como la punta de un puñal....

Tal vez se asemeje esa sensación a sentir los ojos de alguien ajeno y vil a nuestras espaldas.

No sé, pero me inquietan tus palabras.

anad disse...

«O mundo era surdo para mim (...)»

O mundo está surdo e mudo para as pessoas, porque não as vê como pessoas, mas sim como objectos iguais ao telefone lagosta do Dali, que eu postei hoje no meu cabeçalho. Nós somos telefones lagostas e há ainda quem coma as lagostas vivas ,deitadas na água a ferver na panela.
Anad

Isabel Victor disse...

"beijando-me a ira no pescoço ..."


Como num circo de vampiros sorridentes !

Irónico. Cortante. Tremendamente sonoro.

Adoro


IV*

hora tardia disse...

Z. está na altura de pedir ajuda a alguém sábio. Que saiba como se resolve o problema de recuperar o acesso....:(

eu não sei. de todo. que lástima.


________________
beijo.

a esperar que tudo se resolva bem e depressa..

________________.

anad disse...

Profanus
Fui ao Egipto e voltei (ninguém pode morrer sem visitar o Egipto) e encontro-o desaparecido.
O que é que aconteceu à sua poesia???
Anad

Bandida disse...

a escrita é água...

Anónimo disse...

Quando nos presenteia com novo poema?

Boa semana. :)

lupuscanissignatus disse...

bagos

de

in

quietação

isabel mendes ferreira disse...

para deixar um beijo de Parabéns. pela sua Princesa.



.

Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) disse...

Boa noite de mayo.

Carla Ribeiro disse...

Que dizer do poema quando o poema diz tudo?
Adorei e sonhei cada palavra. Voltarei mais vezes.