Profanus

Profano o espaço. que será. seja. um caminho. vereda de memórias.

domingo, 9 de março de 2008

VINHAS

aquecias as tuas mãos na minha samarra

havia por ali um animal indecente

havia por ali um animal inocente

eu sentia o teu cheiro a léguas

andavas muito nas esperas

não te avistava no jardim ao fundo

o mundo era surdo para mim

passava gente eu via e era cego

as pessoas diziam coisas que eu não entendia

como a mulher da sapataria que exclamava :

_nem o meu foi um amor assim

ia para dentro desinteressada da cliente

eu sabia a mulher passava revista aos sapatos em frente ao espelho

rolando a perna alta e levando os mais baratos

quando passávamos já a cliente se afastava

e ela connosco queria falar do que tinha esquecido

abanando a cabeça dizia: eu nunca vi cliente assim

fez oito mudas de sapatos comeu –me o tempo

o tempo passava nunca parando ela sempre falando

atrás de mim como uma só noite afinal

beijando-me a ira no pescoço com o gume de um punhal


JRM

quinta-feira, 6 de março de 2008

Anatema escreveu....

por questões práticas e imediatas aqui deixo a autoria do poema
abaixo escrito: Anatema

un abrazo de marzo

somos alas sin rumbo
a la deriva.
volamos
planeando
a favor del viento
hasta cruzarnos
en el aire
con la brisa
que provocan
otras aves
que pasan
a nuestro lado
saliéndonos al paso.
en nuestro camiño

marzo de 2008

quarta-feira, 5 de março de 2008

Fundadora do Tempo

A casa, o neno , o tempo e ti

A casa que levei comigo desde a nación primeira
e desde sempre souben levantada nas beiras dun espello azul


O neno , auga dun beixo , soberano amor que docemente obriga .

O tempo , estas janelas
abertas a outros sen razón .

E ti

raíz da vida nova ,
fundadora do tempo
Beatriz.

In , a escrita das Aves de Marzo, de Xosé María Álvarez Cáccamo, Ed Tema 1997





terça-feira, 4 de março de 2008

Maria Gabriela LLansol

.... em A., tão estável, pressinto uma mutação: ele entrega-se a um certo sofrimento, abre-se. O que é o abandono, e ponto de passagem. Confirma-se que um pouco de nenhuma coisa nos é revelado. Passeio com Jade damos sempre o mesmo passeio e esta cidade, quase um burgo, parece o meu lugar natural de nascimento. Onde vamos todos ? À noite, queimo ervas odoríferas e eucalipto, o meu texto tem sido um pouco abandonado, e o de Augusto também.
TEXTUAL é PRUNUS TRILOBA que florirá. Escuto muitas vezes esse arbusto , que se mantém direito a meio da fachada da casa. É Outono, o meu primeiro Outono numa casa minha que tenha um jardim. A ramaria , ainda jovem, de PRUNUS TRILOBA, espalha conceitos sobre o ar, conforme penso. Spinoza enunciou que as palavras só tem significação precisa em virtude do uso habitual que fazemos delas. Quando terá Prunus Triloba a força suficiente para se tornar um Uso Habitual?

in finita .... Maria Gabriela Llansol (2008)

sábado, 1 de março de 2008

ontem ....

falo contigo, e no entanto, foi ontem que guardei a chuva no cabelo
o meu riso soube-o primeiro, os meus lábios depois, logo a língua inteira
os beijos souberam-se na boca procurados, indecisos e talhados
porque assim eram os beijos fundos da raiz

foi ontem, eram os prados aquecidos pelas flores brancas
que gostavas de morder nos dedos, olhando de frente o sol
mordias, mordias os trevos e as palavras com os dedos
eram as tuas mãos despontando para as manhãs molhadas

a chuva vinha com o sol, o sol trazia pouco calor
não precisávamos nós de calor, só precisávamos da chuva no cabelo
e de a dizermos de corpo unido o que descobríamos do amor


Canção

encontrei o anjo
ás portas da cidade
vinha voando, voando
no brilho impuro da luz


encontrei o anjo
às portas da cidade
vinha soprado, olhando
o linho vibrante da lua


encontrei o anjo
às portas do metro
vinha de verde voando
por uma escada só sua

encontrei o anjo
às portas do jardim
vinha dançando, rindo
descia das casas a pino


encontrei o anjo
às portas daquela rua
descendo por uma escada
tornando a terra sua
JRM